No meio do caos da Índia, ou melhor, bem ao norte da Índia há lugares de paz e caminhos incríveis para conhecer uma cultura tibetana que sobrevive, mesmo em um país que tem costumes do hinduísmo praticados por pelo menos 80% de sua população. A região de Ladakh vem se popularizando como uma rota de trekking em meio às montanhas do Himalaia.
Já fizemos trekking no Nepal, caminhadas no Egito, no Chile… e cada um tem sua característica. Em Ladakh, nós escolhemos fazer o caminho de Sham Valley, conhecido também como “baby trek”, por ser bem tranquilo e possível de se fazer sem guia. A caminhada dura três dias em um percurso de quase 30 km em meio a vales e montanhas. A hospedagem e alimentação são sempre em casas de famílias que vivem nos vilarejos.
Esta caminhada é ótima para iniciantes, mas é bom se hidratar bastante por conta da altitude. Sham Valley está a 3.800 metros acima do mar e isso pode cansar mais rápido do que o normal. O único ponto que pode ser um problema é a falta de água quente. Às vezes, até falta água para a privada.
Dica importante: o trekking se inicia em Likir, que fica a 60 km de distância de Leh, cidade que deve ser sua base para se adaptar a altitude e começar sua caminhada. Nossa dica é negociar um valor fechado com um taxista para te levar até Likir e busca-lo no último dia, no vilarejo de Temisgam. Se quiser, ainda pode negociar um extra para fazer um tour, conhecer templos e lugares históricos no caminho de volta para Leh – vale muito a pena!
Dia 1: Likir – Yangtham
Distância: 10,5 km
Tempo: 3 a 4 horas
Altitude máxima: 3.720 m
Começamos o primeiro dia de trekking por volta das 11h. Nosso motorista nos levou de Leh para Likir, nos largou no meio do nada, deu algumas dicas do caminho e lá fomos nós, animados. Logo de cara já pensamos que seria uma caminhada difícil, pois haviam muitos caminhos trilhados, mas, para nossa sorte, avistamos um grupo de pessoas caminhando. Aí ficou fácil, pelo menos no início.
No caminho, muitas paisagens como montanhas nevadas, estupas (um monumento budista para eternizar relíquias de pessoas significativas) e plantações. Nossa caminhada levou 3h40, com paradas para apreciar tudo o que estava em nossa volta e também considerando uma pausa para um lanchinho.
Chegamos em Yangtham quase 15h. Andamos por todo o vilarejo que devia ter no máximo 10 casas e escolhemos nossa guest house, de um casal de senhores muito simpático e com um quarto com uma incrível vista para as montanhas nevadas do Himalaia. O custo para um casal? 2.500 rupias (algo em torno de 35 dólares) pela acomodação, almoço, jantar, café da manhã e um pequeno lanche para o segundo dia de caminhada. Das 15h até o dia seguinte gastamos o tempo vendo as duas crianças do vilarejo brincarem na rua e as 20h já nos recolhemos para dormir.
Dia 2: Yangtham – Hemis
Distância: 6,6 km
Tempo: 3 a 4 horas
Altitude máxima: 3.895 m
Embora esta parte da caminhada seja mais curta, ela é mais cansativa por ter mais subidas. Mas, também, nada que tirasse o nosso fôlego. Andamos 3h28, porque ficamos em dúvida em alguns momentos e também paramos para comer e descansar. Neste dia não vimos uma paisagem maravilhosa. Na maioria do tempo eram lugares com muitas pedras brancas e montanhas sem muita vegetação, como se vê nas fotos.
A paisagem só começou a ficar mais bonita quando estávamos chegando em Hemis e ali já fomos abordados por uma anfitriã e fomos direto pra guest house tomar um banho quente, coisa que não víamos há dois dias. O custo, com hospedagem e alimentação, também foi de 2.500 rupias.
Mas, nossa estadia em Hemis teve seu ponto alto. Por ser um vilarejo um pouco maior, decidimos perder algumas horas andando por ali e visitamos até uma estátua de um buda gigante. Aqui nós também vimos uma cena um tanto quanto incrível: o senhor da nossa guesthouse rezando. Pode parecer simples, mas era uma reza incansável, muitas folhas lidas e muitas horas seguidas de leitura em voz alta. Ele rezava na sala de estar, e ficamos ali um bom tempo o observando. Ele era servido de chá (inclusive o chá com manteiga que tentamos experimentar) e só parava para se alimentar. Provavelmente a missão da vida dele é terminar o livro sagrado.
Dia 3: Hemis – Temisgan
Distância: 10 km
Tempo: 4 horas
Altitude máxima: 3.737 m
O caminho tem 10 km de distância, mas para nós teve incríveis 29,6 km, incluindo caronas do exército, carona de uma pessoa que nos ajudou e muitas voltas perdidas. Não sabemos onde, mas cometemos algum erro durante a trilha e acabamos dentro de um quartel indiano. Não sabíamos se isso era bom, por estarmos seguros, ou ruim, por poder tomar um tiro por estar zanzando perdido em terras militares.
Nosso trekking ia super bem, íamos caminhando com tranquilidade, paramos para comer sem preocupação com o tempo, até chegar no campo militar do exército indiano. Ficamos desconfiados do caminho, mas tentamos seguir e, quando percebemos, já estávamos perdidos dando mil voltas na área. Para nosso alívio, os militares entenderam nosso erro e nos deram uma carona até a estrada. Neste momento estávamos saindo da trilha e indo pela estrada mesmo.
O cansaço bateu. Depois de 5 km de estrada, pelas nossas contas, nos faltavam mais 5 km de caminhada até chegar em nosso vilarejo em Temisgan. Andamos muito e encontramos a entrada para nosso vilarejo, mas era uma subida que não tínhamos mais condições físicas de fazer. Já tínhamos andado por mais de 6 horas (dessas, 3 horas perdidos) e a única solução foi pedir carona. E assim conseguimos. Uma alma salvadora nos deixou em um trecho mais perto da nossa vila.
Neste último dia chovia e o cansaço era grande. E quando chove a luz falta com certeza nesses vilarejos. Por esses motivos resolvemos ficar em um hotelzinho que achamos bem aconchegante e que estava completamente vazio. O nome dele é Namra Village Hotel e só tinha a gente. E o melhor de tudo é que o valor ficou bem em conta, por 2.700 rúpias (38 dólares), com água quente, jantar e café da manhã.
Dia 4: Temisgan – Leh (de carro)
O quarto dia não tem caminhadas. Ou vai direto para Leh, ou faz um passeio pelos mosteiros durante o retorno para Leh. Passamos por mais alguns monastérios milenares e também por mais paisagens na estrada de volta.
Para nós, o trekking em Ladakh foi uma experiência diferente do que já vivemos. Tivemos a oportunidade de experimentar a culinária tibetana, recheada de vegetais e temperos caseiros, pudemos conviver com famílias bem tradicionais e, claro, ver de pertinho a imensidão das montanhas do Himalaia e toda sua energia.
Há inúmeras opções de trekkings na região, mas como era início de temporada alguns deles ainda tinham alguns pontos interrompidos pela neve. Nós fizemos o baby trek sem guia e acabamos nos perdendo. Recomendamos fortemente procurar uma agência especializada.
Assista ao vídeo: