Quando a gente fica muito tempo longe da natureza é impressionante como só o cheiro de mato já faz um bem danado pra nossa mente. É a memória afetiva da infância, do sítio, de uma viagem. Foi assim que nos sentimos logo que entramos pela portaria do Legado das Águas, uma reserva privada de 31 mil hectares de Mata Atlântica no Vale do Ribeira, em São Paulo. Mesmo com a escuridão sem fim, ali já sabíamos que o final de semana de ecoturismo valeria a pena.
Mantido pela Votorantim Reservas, o Legado das Águas fica entre os municípios de Juquiá, Miracatu e Tapiraí. Cerca de 3 horas de carro (sendo 1h30 de estrada de terra) separam São Paulo desse espetáculo da natureza. Podemos dizer que temos no quintal de casa um dos biomas mais diversos do mundo.
A ideia da reserva é aliar a proteção da floresta e o desenvolvimento de pesquisas científicas às atividades da nova economia, como a produção de plantas nativas e o ecoturismo. A acomodação é bem simples, com cerca de 30 quartos equipados com o suficiente para quem busca o máximo de contato com a natureza, além de um restaurante que serve café da manhã, almoço e janta.
Ao acordar, todo aquele cheiro de mata se transforma em uma selva imensa, verde, viva, bem na frente dos nossos olhos. Não só verde, porque logo no café da manhã já encontramos a diversidade da Mata Atlântica: várias espécies de pássaros coloridos se exibindo e compartilhando o mesmo espaço que nós.
Ainda vivendo em tempos difíceis de pandemia, a conexão com a natureza é um refúgio inestimável. Com o privilégio de termos acesso tão perto de nós, o corpo e a mente agradecem. É o famoso desconectar para se conectar. Resgatar o que o nosso corpo é capaz de sentir.
Por falar em sentir, se os sentidos do olfato e visão já foram reativados, o que dizer para a audição do “barulho de silêncio” de uma cascata? Não há melhor. E não precisa ter preparo físico para chegar perto de uma cachoeira, não. Ali no Legado há atividades para diferentes públicos, como trilhas, visitação a cachoeiras, mountain bike, mirantes e canoagem. As atividades podem ser guiadas, com datas e horários pré-definidos e valores diferenciados. Ou autoguiadas, com acesso a partir da compra do ingresso de visitação.
Mas, de todos os sentidos, a que o Legado das Águas traz mais a tona é o tato. Fazer trilhas, mergulhar em cachoeiras e até sentir as águas do Rio Juquiá em plena canoagem noturna, que no fim das contas nem é tão gelada assim.
Para quem acha que explorar a mata em um espaço “controlado” afasta a experiência de natureza selvagem, está enganado. Ter a companhia de pessoas altamente comprometidas com o desenvolvimento sustentável da região agrega ainda mais a experiência. É uma aula e tanto, de biologia, química, e, acima de tudo, cidadania.
Cuidado e conservação. Afinal, estar em contato com a natureza só é valido se for bom para ambos: visitante e meio ambiente. Conhecer, aprender e admirar a imensa natureza que temos, respeitando sempre a cultura local, é uma questão de turismo responsável, e acreditamos que é assim que todo turismo deve ser.